Videomapping

Esplanada

Situações Públicas


A experiência paradoxal entre presença e ausência - de estados mutantes entre realidade concreta e projeção imaginada - articulam-se no experimento poético Esplanada, que como método e meio utiliza a matéria definida na palavra Esplanada: a visão, a sua subtração, a sua fragmentação e recomposição em utopias e distopias possíveis e latentes neste lugar sem-tempo, ou tempos sem-lugar no horizonte da experiência. O vídeo de artista propõe uma abertura da percepção dos tempos na sucessão e interpolação de dias quasi-iguais, que vivemos juntos ainda que isolados. Presença, ausência e percepção, durante a pandemia e o confinamento, são constantemente atravessadas por “projeções” epidemiológicas, econômicas, conjunturais. Na esfera da individualidade, estamos “projetando” o tempo todo a pulsão de vida e a pulsão de morte, em termos freudianos, sobre o horizonte aberto e o bloqueio de limites, do não-visto, do inconsciente ou aparentemente ausente.

O vídeo de artista apresenta como locação e contexto performativo o terraço do Edifício Esplanada - cujo nome, substantivo feminino, significa:

“1. sítio elevado e aberto de onde se tem boa visão e perspectiva; chapada, altiplano, platô”

- projetado pelo arquiteto uruguaio Román Fresnedo Siri e erigido em 1952, antes de a cidade de Porto Alegre possuir Plano Diretor, em terreno alto, de esquina, como o nome indica, com vista panorâmica para toda a Cidade e além do Rio Guaíba.



“Cada época histórica está imersa em uma determinada iluminação diurna ou noturna.“

Walter Benjamin, Passagens


︎ Registros de instalação imersiva de videomapping sobre arquitetura modernista realizada a partir da construção de time-lapses do horizonte projetados. Realizada durante o período de isolamento social provocado pela emergência da pandemia de COVID-19.
︎ 2020


︎ Projeto premiado pelo Edital FAC Digital RS (2020)
︎ Publicado pela Revista ArtHole UK (07/2020)
︎ Selecionado para integrar a Mostra de Arte Virtual Homeostasis Lab (2021)
︎ Artigo Publicado pela Revista Posto 68, n.3 (2021)

#culturaeessencial
#facdigitalrs
#feevaletechpark
 
Estréia 12 de dezembro de 2020 ︎ Vídeo premiado pelo Edital FUNARTE RespirArte (2020)





Esplanada é uma produção audiovisual construída a partir de registros do cotidiano, aplicados em performance experimental de videomapping sobre arquitetura modernista icônica da cidade de Porto Alegre, realizada durante o período de isolamento social vivido em razão da emergência da pandemia de Covid-19. Um trabalho efêmero, site-specific, inserido no âmbito da Pesquisa de Mestrado em Poéticas Visuais (PPGAV/UFRGS) intitulada Situações Públicas: Projeto e Projeção, em parceria com a musicista e compositora Aline Araújo.

O laboratório poético foi motivado por teorias gestálticas, situacionistas e reflexões acerca da percepção da passagem do tempo e da presença na contingência da mobilidade espacial restrita. Debruça-se sobre os deslocamentos psicológicos mediados pelas janelas, telas e demais écrãs reais, virtuais e imaginados; responsáveis pela construção de territórios metafísicos nos quais a luz nunca apaga, nunca é escuro e não há a noite. A pandemia, a doença e a iminência da morte sentidas como sombra coletiva são aqui entendidas como uma forma de decapitação, que encontra na figura da subtração dos sentidos, exceto os da cabeça - a visão e a audição- sua metáfora de reconstrução e desconstrução da memória de estar no espaço coletivo, construído e urbano, por ora desabitado durante a maior crise global vivida pela modernidade tardia.








Nas palavras de W. Benjamin,
“Se a escuridão da distopia marca uma limitação, paradoxalmente a luz, a iluminação, representam a capacidade de reagir e imaginar, e de expandir nossos limites perceptivos, filosoficamente. A utopia da expansão visual iria para além do domínio da visão, quando encontraria novamente o escuro de um recolhimento de um lugar interior. Lá, onde a imaginação se torna imagem em arte.”


A realização compreendeu as etapas de construção fotográfica de time-lapses, registrados a partir da vista norte do 14º andar do Edifício Esplanada e observados ao longo dos primeiros meses de isolamento social. Feito entre abril e maio de 2020, enquanto morei com minha amiga Ana Girardello em seu apartamento para fugir da solidão do confinamento. A realidade dos simulacros, nos termos de J. Baudrillard, das imagens que estão em lugar de um real, oculto ou inacessível, é aqui trabalhada no registro desta situação híbrida construída de realidade aumentada. Posteriormente, as imagens vistas da janela foram projetadas sobre as paredes do terraço, de maneira a completar a panorâmica de um mesmo território comum, a paisagem da cidade de Porto Alegre e suas ilhas - em tempos distintos e complementares. A especificidade da localização na concepção reverencia, bem como toma partido e inspiração na experiência modernista de um projeto civilizatório que almejava realizar-se por meio da linguagem arquitetônica.





A imagem da cidade, neste desdobramento do trabalho em que torna-se acessível online atravpes da presente exposição virtual, passa a existir em meio ao regime de linguagem das imagens urbanas. Um trabalho que constrói e tensiona a ideia de paisagem, de percepção, projeção e construção da paisagem, que avança para além do visual na paisagem sonora. Convidei a amiga compositora Aline Araujo, que teve acesso, via nuvem de dados, a todos os registros de captações de projeção de imagens com o som bruto da rua, que preenchia o ambiente, aberto. O processo e o resultado desta empreitada artística aproximam-se de um realismo fantástico ao promover uma abertura do tempo dentro do tempo em sua composição visual conjuntamente com a arte do som.

A criação sonora partiu da combinação dos registros de trilha sonora diegética com um compilado de ruídos de múltiplas texturas de trilha sonora extradiegética. Remodeladas, entremeadas, acumuladas, estruturam uma escultura sonora. A fusão da enorme massa de som que compõe o universo contemporâneo se transforma em uma paisagem sonora projetada, fictícia.  A metodologia de trabalho de Aline Araujo se estabeleceu a partir de colagens de fragmentos sonoros, os quais sugerem ritmos, sequências, consonâncias e dissonâncias em sincronia ou descompasso. A transformação dos ruídos em padronagem desencadeou o replicar e sobrepor de tons, em que as mínimas inesperadas sonoridades subvertem o universo da música.

Entendemos que a escolha de um som ambiente sonoriza a história. Explorando espécies de timbres, alternando taxas de frequência rápidas e irregulares, os ruídos estridentes da metrópole, a poluição sonora, o silêncio escondido, a artista estabelece situações. Um diálogo é impossível em meio a um ambiente ruidoso. Somos perturbados pelos sinais sonoros que interferem e pelo ruído ambiental indiscriminado. O mundo está cheio de sons, desejados e indesejados. Motores dominam a sessão, estrépitos invadem, mascarando outros sons. Silêncio.   


“A cidade é moderna
Dizia o cego a seu filho 
Os olhos cheios de terra 
O bonde fora dos trilhos 
A aventura começa no coração dos navios 
Pensava o filho calado 
Pensava o filho ouvindo 
Que a cidade é moderna 
Pensava o filho sorrindo 
E era surdo e era mudo 
Mas que falava e ouvia”

Milton Nascimento / Ronaldo Bastos - Trastevere


Esplanada, vídeo premiado pelo Edital FUNARTE RespirArte 2020
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︎ Créditos
Idealização, direção e fotografia: Arq. Livia Koeche
Trilha sonora e desenho de som: Aline Araújo Assistência de produção e fotografia: Ana Girardello Texto: Livia Koeche e Aline Araújo
Financiamento: Edital FAC Digital RS [ www.cultura.rs.gov.br www.feevale.br www.feevaletechpark.com.br ] e CAPES 

Realização: FUNARTE RespirArte

Apoio Institucional: Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV) Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Este projeto foi contemplado pelo Prêmio FUNARTE RespirArte






    Porto Alegre, Brasil.